Sabe aquela sensação de que a nova geração está vindo mais evoluída sobre questões como sexualidade e identidade de gênero? Uma pesquisa feita pelo Datafolha e Havaianas, em parceria com a All Out, mostra que isso pode corresponder a realidade, afinal o número de LGBTs no Brasil é maior entre os mais jovens. Enquanto a média da presença na população brasileira é de 9,3%, no recorte entre 16 e 24 anos esse número sobe para quase o dobro (18%).
O levantamento revelou que somos mais de 15,5 milhões e todo o Brasil. O número é bem maior do que o apresentado pelo IBGE no início do ano, que apontava 2,9 milhões. Na época ativistas questionavam o resultado e alertaram para a subnotificação causada pelo receio em responder sobre o assunto. Segundo o Datafolha, a pesquisa atual tem margem de erro de 2 pontos percentuais e confiabilidade de 95%.
Chamou a atenção que quanto mais jovem, maior o percentual de entrevistados que se identificam como LGBTQIA+. Depois dos 18% entre a população de 16 a 24 anos, a faixa etária entre 25 e 34 anos apresentou 13,2% de LGBTs. As duas estão acima da média nacional (9,3%). Entre os entrevistados de 35 a 44 anos (6,8%) se identificaram como LGBTQIA+, entre 45 e 59 anos foram 6,1% e acima de 60 anos foram 5,3%.
A maior parte dos que se identificaram como LGBTQIA+ é homossexual (2,8%, sendo 1,6% gays e 1,2% lésbicas). Os bissexuais representam 2,7% da população brasileira. Sobre identidade de gênero, 1,7% são trans/travesti. Ainda, 0,8% são intersexo.
O número de LGBTs moradores em região metropolitana também é maior que a média nacional (10,9%), enquanto o número entre moradores do interior é de 8,2%. As regiões Centro-Oeste (10,1%), Sudeste (9,9%) e Norte (9,8%) apresentam média superior a nacional enquanto o Sul (8,7%) e Nordeste (8,5%) tiveram menor número de pessoas LGBTQIA+.
Amigos ainda são ambiente mais acolhedor que família
Dizem que os amigos são “a família que escolhemos”. Para a população LGBTQIA+ essa máxima é ainda mais presente. Enquanto 73% dos LGBTs afirmam ter um bom relacionamento com amigos, o número cai para 65% quando é sobre relacionamento com a família. Para efeito de comparação, entre os não LGBTQIA+ o percentual de pessoas que afirmar ter bom relacionamento familiar é de 80%. Ainda, quase metade (47,8%) dos LGBTs afirmar ter preconceito e hostilidade no ambiente familiar.
Apesar de 63% dos LGBTs afirmarem que de alguma maneira a “sociedade me respeita como sou”, apenas 37% concordam totalmente com essa afirmativa (23% concordam em parte). Chama a atenção que seis entre cada dez (63,6%) entrevistados LGBTQIA+ afirmam sofrer preconceito, discriminação ou intolerância; e que quase três entre cada dez (28%) sofreram agressão física.
O resultado é que resolver o problema da segurança pública, da violência física e da discriminação, intolerância e preconceito são as demandas mais urgentes para a comunidade LGBTQIA+, segundo o levantamento.
Percepção sobre mercado de trabalho melhora
Mesmo com variação dentro da margem de erro, a pesquisa Havaianas/Datafolha demonstrou que quanto maior o nível de escolaridade há também maior percentual de LGBTs. No recorte de nível superior o número de LGBTQIA+ é de 11,3%, com nível médio é de 9,9% e com nível fundamental 7,4%. Já a representatividade dentro das faixas de classe econômica teve uma variação muito pequena, de no máximo 0,6% entre a quantidade nas classes D/E (9%) para as classes A/B (9,6%).
Mesmo assim, chamou a atenção no levantamento ainda a questão de acesso ao trabalho. Apesar da maioria dos respondentes LGBTQIA+ (55,7%) ter relatado algum nível de dificuldade em relação ao trabalho, o número é praticamente igual aos não LGBTQA+ (55%) que enfrentam o mesmo problema. Os números demonstram que ser da comunidade pode não significar mais ter maior dificuldade de acesso ao trabalho, tanto que a maioria 48% dos LGBTs discordam que o mercado de trabalho formal os rejeita, embora 40% ainda acreditam que isso aconteça.
Também é positivo a percepção que 67,1% dos LGBTs serem tratados da mesma forma que os outros colegas no ambiente de trabalho e 53,8% acreditam ter acesso às mesmas oportunidades de crescimento. Mas é preciso destacar que neste caso a classe social influencia nos resultados, com 72,3% dos entrevistados das classes A/B afirmando serem tratados da mesma forma, contra 58,6% dos entrevistados das classes D/E.
Quase a metade (47,7%) afirma vivenciar comentários ou atitudes negativas devido a sua orientação sexual ou identidade de gênero no trabalho, mesmo que a maior parte (32,1%) afirmem que isso acontece “às vezes ou raramente”. Novamente a classe social influencia no resultado, com 44,7% dos respondentes das classes D/E observarem essas atitudes, contra 39,2% entre os respondentes das classes A/B.
Surpreendeu ainda a proporção de pessoas não LGBTQIA+ que relatam algum tipo de dificuldade de acesso a educação (45%) ser maior do que os LGBTQIA+ (37,2%).
Representatividade e direitos
Dos entrevistados LGBTQIA+ pela pesquisa Havaianas/Datafolha, 67% não se sentem representados parcial ou totalmente nas políticas públicas e 55% não se sentem representados na TV e em outros tipos de mídia. O resultado é que 41,9% acreditam que não tem seus direitos de casamento reconhecidos e 39,2% acreditam não ter o direito de adotar crianças reconhecido.
Isso se explica quando olhamos como os não LGBTQIA+ enxergam a nossa comunidade. Segundo o levantamento, apesar de 85% afirmarem que respeitam os LGBTs, o número dos que são a favor da igualdade de direitos cai para 78%. O percentual dos que acreditam que pessoas LGBTQIA+ deveriam poder se expressa livremente (74%) é também menor, mas assustador mesmo é a queda para apenas 53% achando comum demonstrações públicas de afeto entre casais do mesmo gênero.
Para a pesquisa Havaianas/Datafolha foram entrevistadas 3.674 pessoas maiores de 16 anos em 120 municípios brasileiros das cinco regiões do Brasil. A margem de erro e de 2 pontos percentuais e o índice de confiabilidade é de 95%.
What do you think?