Pergunte a qualquer homem gay no mundo quem foi Touko Valio Laaksonen. Pouquíssimos saberão responder. Mas, se questionar os mesmos quem foi Tom of Filand, a maioria saberá falar a respeito. O uso do pseudônimo se fez necessário já que até a década de 70 a homossexualidade era crime na Finlândia. Nascido em 1920, Tom subverteu o mundo da arte ao apresentar desenhos que exaltavam a sexualidade de homens gays e que destacam músculos, calças justas e jaquetas de couro.
Apesar de desenhar tira em quadrinhos desde os cinco anos e do sucesso entre a comunidade queer já perceptível nas décadas de 60 e 70, Touko Laaksonen morreu, aos 71 anos em 1991, sem de fato ter visto todo o reconhecimento que o trabalho de Tom of Filand merece. Se hoje sua arte estampa roupas, garrafas de bebidas e está exposta em importantes galerias pelo mundo, como o Museu de Arte Moderna de Nova York, no inicio o mundo artístico virava a cara para seu trabalho.
Amigo e cofundador da Fundação Tom of Finland, Durk Dehner lembra que precisou de muito tempo para que as pessoas passassem a enxergar o trabalho como deveriam: “Eles não percebiam o verdadeiro conteúdo da obra além das aparência sexual. Não viram que ele estava criando uma visão para que os gays pudessem acreditar que era possível se relacionar”.
Em 1957 alguns de seus trabalhos forma publicados na revista americana Physique Pictorial, mas como era ilegal “retratar atos homossexuais evidentes” nos Estados Unidos, teve que ser mais cauteloso nos desenhos. Mas foi só no final dos anos 70 que seu trabalho ganhou destaque entre a comunidade queer e Durk percebeu a importância que os desenhos tinham na vida dos gays. “Eu testemunhei longas filas de de jovens que queriam agradecê-lo por dar uma imagem positiva de como eles poderiam ser felizes”, relembra sobre o episódio acontecido em uma exposição em San Francisco (1978). “Percebi naquele momento que ele não era apenas um bom artista, ele realmente mudou a maneira como as pessoas se viam”, completa.
Para o amigo o sucesso veio do fato de Tom ter “roubado” o estereótipo do macho alfa heterossexual e transformado em uma figura queer, totalmente diferente de como os gays eram retratados na época, sempre como figuras afeminadas e de forma depreciativa. A inspiração veio de um garoto musculoso que trabalhava numa fazenda vizinha quando Touko ainda era jovem e de seu tempo quando usou uniforme de tenente na Segunda Guerra Mundial, para defender a Finlândia da invasão de Stalin.
Além disso, os homens dos desenhos de Tom of Finland eram livres, desinibidos e não pareciam se preocupar se alguém os observava. Realidade que o artista só encontrou quando começou a viajar para os Estados Unidos e se permitiu conhecer os locais frequentados pelos gays nas grandes cidades norte-americanas. Quando perguntado se não ficava envergonhado ao desenhar homens praticando relação sexual, Tom afirmava enfaticamente: “Trabalhei arduamente para ter certeza de que os homens que desenho têm orgulho pelo sexo que praticam e estão felizes por fazê-lo”.
Mesmo com a importância para a comunidade, seu trabalho só chegou ao mainstream com o lançamento de uma coleção de moda, em 1995, após a sua morte. Desde então Tom of Filand é celebrado como um artista icônico.
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