Se Paris 2024 foi a edição olímpica com maior paridade entre participação de atletas mulheres e homens, os Jogos Olímpicos na capital francesa ainda ficarão marcados por comentários machistas nas transmissões das competições. Isso demonstra que ainda temos um longo caminho para que o esporte olímpico seja de fato acolhedor em todos os sentidos para as mulheres.
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Mesmo com a preocupação dos organizadores com respeito as mulheres, com orientação para os operadores de câmera terem cuidados com os ângulos de transmissão, os profissionais de comunicação envolvidos na competição tiveram comentários machistas. Com isso fica clara a urgência para que as empresas de mídia que compram os direitos de transmissão também façam um trabalho de conscientização com seus profissionais.
Bob Ballard, comentarista da natação do canal Eurosport foi afastado das transmissões depois de fazer um comentário sexitsa sobre nadadoras australianas. “O time da Austrália está atrasado (para a cerimônia de premiação), mas logo estará pronto. Vocês sabem como são as mulheres. Devem estar passeando por aí ou fazendo a maquiagem”.
Outro caso aconteceu em transmissão de uma rádio francesa. Durante a partida em que as francesas Caroline Garcia e Diane Parry enfrentavam as italianas Sara Errani e Jasmine Paolini o comentarista da RMC falou: “Aí está a tenista Sara Errani, que é a chefona. Ela faz de tudo: lava a louça, cozinha, limpa”.
Nas transmissões para o Brasil também foram vistos comentários machistas durante Paris 2024. Marcos Freitas, comentarista de vôlei do SporTV falava sobre aposentadoria de Sarina Koga (Japão) quando soltou a pérola: “É ruim para a seleção japonesa, para o vôlei, mas bom para o marido dela, né? Vai ter ela em casa, mais tranquila, cuidando da família”.
Porém foi a inovadora transmissão da CazéTV que teve mais problemas com o machismo de seus profissionais. Só nas transmissões do surfe foram dois casos envolvendo o comentarista Marcelo Trekinho. Primeiro afirmou que Luana Silva tinha que buscar a recuperação numa bateria falando que “Se fosse o Medina ele mão ia deixar. Ele já teria pegado a onda, feito alguma coisa”. Depois ao se referir a medalhista Tati Weston-Webb fez questão de ressaltar que era esposa do Jesse Mendes e ainda afirmou: “Acha que o Jesse não ensinou tudo o que ela tem que saber?”.
Houve ainda o caso a fala do apresentador Guilherme Beltrão no canal que transmitiu as competições no Youtube. Durante o programa “Zona Olímpica” ele afirmou que “o ‘camarada’ do nado sincronizado que não tem chance de medalha tem que ir (aos Jogos Olímpicos) por dois motivos: se superar e comer gente”. A medalhista pan-americana Gabriela Regly criticou duramente o tom da fala: “Isso é um completo absurdo. Isso é uma falta de respeito com o atleta, uma falta de respeito com a gente… Por mais que a gente não tenha chance de medalha na Olimpíada, a gente está brigando para representar o nosso país”.
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